Gerir uma construtora é como jogar roleta: a visão de Martim Tomé sobre os desafios da construção

Gerir uma construtora é como jogar roleta: a visão de Martim Tomé sobre os desafios da construção

Começámos novamente cedo, como marca a tradição nas Tertúlias Alphalink: às 7h30 sentámo-nos à conversa com Martim Tomé, CEO da Tecniarte – Projectos e Construções S.A., para falar sobre o que é, verdadeiramente, gerir uma empresa de construção em Portugal.

A Tecniarte começou como uma pequena empresa de apoio a obras de infraestruturas e é hoje uma construtora de referência, com mais de 150 colaboradores e um volume de faturação que ronda os 60 milhões de euros. Um crescimento sustentado em estratégia, cultura de equipa… e muita resiliência.

Produzir para manter a máquina a funcionar

A Tecniarte está estruturada para produzir cerca de 80 milhões de euros por ano. Mas, como explicou Martim Tomé, a maior dificuldade não é o custo da estrutura nem o pós-venda — é garantir que essa produção efetivamente acontece, mês após mês. Os atrasos nas obras comprometem diretamente a rentabilidade da empresa.

Muitos dos problemas nascem de indefinições e alterações em projeto, e o impacto é agravado quando se perde tempo ou se repete trabalho — um dos maiores custos ocultos na construção.

A qualidade do projeto e o planeamento como fatores críticos

Entre todos os desafios abordados, houve um que se destacou: a baixa qualidade dos projetos de execução. “Muitas vezes contratamos sem termos a certeza do que estamos realmente a contratar”, referiu Martim.

Sem clareza no projeto, o risco de derrapagem é enorme — quer nos custos, quer nos prazos.

Além disso, o setor ainda vive com práticas que privilegiam a adjudicação ao mais barato, o que alimenta uma lógica de desconfiança e ineficiência generalizada.

O papel das equipas e da liderança

A Tecniarte aposta numa estrutura descentralizada, com unidades de negócio por região, e coordenação local de produção. No entanto, manter a cultura da empresa viva num ambiente com alta rotação e grande dispersão de equipas é um enorme desafio.

“Um bom encarregado pode ganhar mais do que um diretor de obra”, disse Martim. Mas a escassez de talento técnico continua a ser um problema sério no setor — e o sucesso de uma obra está diretamente ligado à qualidade da sua liderança.

O que pode a gestão de projeto fazer?

Mais uma vez, como noutras tertúlias, o espírito colaborativo voltou ao centro da conversa. A ideia de que donos de obra, projetistas, gestores e empreiteiros estão em lados opostos de uma “barricada” é, para Martim, um dos grandes entraves ao progresso da indústria.

A gestão de projeto pode — e deve — ajudar a transformar esta cultura, promovendo:

  • Ambientes de confiança entre os intervenientes;
  • Claridade sobre o que é realmente o projeto a executar;
  • Planeamento realista e colaboração desde o início;
  • Alinhamento entre o custo desejado e as soluções desenhadas.

Na Alphalink, acreditamos que a gestão de projeto é, acima de tudo, sobre pessoas. Sobre criar condições para que todos — arquitetos, engenheiros, empreiteiros, investidores — possam dar o melhor de si.

Nas Tertúlias Alphalink, convidamos os protagonistas da construção a pensar connosco. Sem filtros. Sem floreados. Só pensamento crítico e experiência partilhada.

É muito bom ouvir pessoas inteligentes a pensar!

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