Este artigo é o seguimento de A importância das redes nas nossas relações, e apresenta uma componente teórica que me parece interessante conhecer.
Mark Granovetter olhou para este fenómeno na década de 70, tendo escrito um artigo influente com o sugestivo nome “The Strenght of Weak Ties” – A força dos elos fracos – e as suas conclusões são tão surpreendentes como valiosas. O que a seguir apresento baseia-se nesse artigo.
O que é a força dos elos?
Não querendo massacrar o leitor, apresento um conceito teórico: a força dos elos (relembro que no contexto de rede que estamos a discutir os elos são os relações entre pessoas).
A força das relações é uma função do tempo, intensidade emocional, confiança mútua e reciprocidade de serviços que caracterizam a relação.
Como é óbvio não se trata de uma definição com rigor matemático, mas aqui ficam alguns exemplos que enquadram bem a definição:
- A relação que mantemos com um grande amigo, com quem falamos frequentemente, de quem gostamos, a quem ajudamos e que nos ajuda, é uma relação forte no sentido da definição.
- A relação que mantemos com um colega de trabalho, a quem não nos sentimos particularmente ligados emocionalmente, mas com quem lidamos com muita frequência, pedimos umas coisas e nos pede outras, será também uma relação forte.
- A relação que mantemos com um colega de escola que não vemos há anos, mas a quem nos sentimos fortemente ligados, já será uma relação mais fraca, por muito forte que seja o laço afetivo que nos une.
- O colega de trabalho de quem nos afastámos e cujo nome já temos dificuldade em relembrar é sem dúvida uma relação fraca (no limite deixa de ser uma relação).
- A relação que mantemos com o senhor da mercearia, com quem falamos frequentemente, que nos conhece e reconhece, mas que ainda assim não nos é próximo, é uma ligação fraca.
Munidos do conceito de força da relação, podemos então mergulhar na análise de Granovetter.
A força dos elos fracos
Assumindo que uma rede é constituída por relações fortes e fracas, conclui o autor que são as relações fracas, e não as fortes, que interligam a rede e lhe dão consistência.
Se apenas existissem as relações fortes, a sociedade ficaria fragmentada, seriam necessários muito mais do que seis graus de distância para chegar a toda a gente e talvez houvesse pessoas a quem eu não chegasse de todo.
O tema poderá parecer um pouco árido à primeira vista – elos, relações, redes… – mas as ilações que daqui podemos retirar são extremamente valiosas para as nossas vidas, e todos teremos muito a ganhar se compreendermos bem o fenómeno.
Neste artigo apresento algumas considerações práticas sobre aquilo que este fenómeno nos ensina.
Jaime Quintas
Ilustração de Ana Salvado | Todos os direitos reservados