Minimizar o custo

Vai contratar uma obra? Prefere minimizar o custo ou a incerteza?

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Há uma confusão corrente na indústria da construção no que à gestão do custo na contratação de uma obra diz respeito:

O custo ser alto ou baixo é uma coisa, ser certo ou incerto é outra coisa diferente.

Confundir estes dois fatores (o nível de custo e a incerteza) é terreno fértil para muitas decisões erradas e tensões desnecessárias.

Quando avaliamos a estratégia de desenvolvimento e contratação de um projeto, ou quando avaliamos a performance do mesmo no que ao custo diz respeito, temos de perceber muito bem de que é que estamos a falar.

Ao contratar uma obra, é óbvio que o preço é um fator extremamente importante. O que não é tão óbvio é perceber o que é que esse “extremamente importante” significa:

  • Pretendemos minimizar o custo da obra?
  • Ou pretendemos antes minimizar a incerteza do custo?

Na maior parte dos casos, são objetivos mutuamente exclusivos, no sentido em que lutar por um compromete o outro. Temos de estabelecer muito bem o que pretendemos, pois apenas assim teremos alguma possibilidade de o conseguir.

Note-se que não estou aqui a considerar alterações ao projeto, redução de qualidade e outras variações. Estou a pensar sim na estratégia de contratação da obra com base num projeto definido, com um nível de qualidade estabelecido e que não pretendemos alterar ou comprometer.

Custo vs Incerteza

O primeiro ponto que importa clarificar é que o custo da obra é o custo total até à conclusão da mesma, não é necessariamente o custo no momento da contratação. 

Para a mesma obra preferimos começar em 100 e terminar em 110, ou começar em 115 e terminar em 115?

Na primeira o custo foi volátil e incerto na altura do arranque da obra, mas mais baixo. Na segunda não havia incerteza, mas o custo foi mais alto.

Antes de responder que pretende a primeira, pense muito bem se estaria mesmo disposto a aceitar 10% de trabalhos a mais numa obra e manter a cabeça fria de achar que isso não é um drama.

Reduzir a incerteza custa dinheiro

O primeiro instinto para reduzir a incerteza é forçar que seja o empreiteiro a assumir o risco da variação do custo.

Aparecem aqui os contratos por valor global, muitas vezes com clausulado fortíssimo em que o empreiteiro é forçado a aceitar o que conhece, o que não conhece e ainda o que não poderia conhecer (arqueologia sendo um caso paradigmático).

Acontece que forçar este risco para o empreiteiro fará com que este se defenda na orçamentação. E defender na orçamentação significa aumentar o preço. Reduzir a incerteza custa dinheiro.

Outro efeito de aumento de custo quando queremos reduzir a incerteza tem a ver com as medições dos projetos. Conhecendo a aversão à incerteza dos clientes, é comum que projetistas se defendam nas medições.  Quantas vezes não nos deparámos já com mapas de redes estruturadas com 80m de cabo por ponto-de-rede, quando se está mesmo a ver que provavelmente não terá mais do que 50 ou 60?!

Tudo somado, conclui-se que lutar contra a incerteza implica quase sempre um custo mais elevado.

Considerações finais

Guarde isto consigo: o nível do custo e de incerteza são coisas diferentes, e mexer num implica quase certamente variações no outro.

Este conceito vai surgir em muitos outros artigos da Alphalink, seja sobre a contratação da obra, sobre a gestão do custo ou gestão do risco.

Jaime Quintas

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